terça-feira, 4 de março de 2008

Cinema Paradiso

Giuseppe Tornatore, 1989.
"Fine".Voltei a caixinha do filme para procurar crédito, fazendo força para não esquecer. Querendo não esquecer.
Ainda não tinha visto Totó, mas hoje assinei a lista de empréstimos da videoteca. Trouxe mami para sala, ventilador também. O que se passaria dentro de mim naquelas 2 horas eu não sabia. Tento organizar, não quero esquecer. Como sonho que a caneta atrasa, bocejo cansada na insistência.
Mas o que teria ficado? Meu museu de imagens, pesquisa de mim mesma.
O menino, a infância. A infância mexe tanto comigo ainda mais se órfã, ainda mais se cresce com sabedoria dos mais velhos. E sozinhos, como Alfredo. Bondosos senhores sem família que aconselham crianças. Que apanham de mães sofridas por desespero de maridos sem volta depois de guerras com tantas voltas e esperas. Da censura. Da Igreja. Dos cortes, das edições. "Final Cut", palavra da tarde, chave do filme. Cinema emociona sim e por que? As lições das fábulas, quase 100 dias de espera. Quase, mas não todos. Podemos desistir mesmo que falte pouco, mesmo que falte um. A insistência asceta por amores não correspondidos. A leveza irresponsável dos apaixonados. Lembranças, nossas lembranças, nosso medo de olhar nossa vida como história passada, ampulheta de saudades e arrependimentos. De não apreensão do que fica no hoje, sensação que amputa dedos, nem adianta. Vida e tempo, frágeis passageiros. E não sei se conseguiria não olhar pra trás, mesmo que amuleto, missão ou tesouro. Os trilhos eu trago, todos, mesmo que pague com a angústia das bifurcações. Totó eu não seria, obediência pra saudade falta impor. Filme lindo, dos beijos não dados no futuro que abraço, da procura do que tem de mim na tela do cinema, esse paradiso.